Aline Botelho: Palavra que Educa, Verso que Reencanta, Presença que Transforma

Brasil Educação & Cultura Geral

Nascida em Belford Roxo, na Baixada Fluminense — periferia da periferia, onde o sol da resistência insiste em nascer mesmo nos dias mais cinzentos — Aline Botelho é filha das encruzilhadas entre saberes e ancestralidades. Neta de Dona Elisia e da encantada Neuza Ferro, filha de Dona Nilza e mãe de três filhas — todas de nome Ana — carrega na pele, no nome e no gesto o legado de suas mais velhas.

Mulher negra, educadora afrocêntrica, escritora, militante e referência viva nas práticas pedagógicas que colocam o povo negro no centro da história, da memória e do afeto, Aline faz da palavra sua principal ferramenta de transformação.

Doutoranda e mestra em Educação pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ – Instituto Multidisciplinar), atua com firmeza no chão da escola pública. É professora da Educação Básica, orientadora pedagógica e atualmente exerce a função de Coordenadora de Promoção da Igualdade Racial no município de Araruama (RJ).

Com mais de três décadas de atuação, Aline planta sementes de futuro nos quintais da educação brasileira. Sua atuação inclui formação de professores, fortalecimento de práticas afroreferenciadas, desenvolvimento de políticas públicas e valorização das infâncias negras.

É idealizadora do projeto “Conhecendo Minhas Raízes e Valorizando Nossas Identidades” e coordena o Tela de Afetos, grupo de leitura e resistência que constrói caminhos para o ingresso de corpos pretos na pós-graduação — porque universidade também é terreiro de saber.

Autora de dois livros e presença em oito antologias, Aline escreve com o corpo, com a memória e com a alma. Sua primeira obra, “Há Quatro Anos Sou Preta”, nasceu no chão da cozinha, como um recomeço forjado no reconhecimento racial. Inspirado na escrevivência de Carolina Maria de Jesus, o livro é um grito doce e firme que reverbera nas trajetórias de tantas mulheres negras que só se reconhecem como pretas na vida adulta, mesmo com a ancestralidade pulsando em seus traços.

Em 2025, lançou seu segundo livro, “Os Encantos de Enila”, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. A obra é um verdadeiro encantamento em forma de papel. Reafirma a oralidade como potência, a ancestralidade como farol e o afeto como metodologia. Conceição Evaristo é guia nesse caminho, e a escrevivência flui como rio entre margens de sabedoria popular.

Sua escrita transita entre poesias e prosas, entre o concreto e o sonho. Participa de obras como Baobás de Concreto, Doces Feitos Caju, Territórios Silenciados e Gestão Escolar: Olhares que Transformam, entre outras. Sua caneta é lança e reza — luta e cura.

Inspirada por gigantes como Conceição Evaristo, Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Carolina Maria de Jesus, Paulina Chiziane e Chimamanda Ngozi Adichie, Aline também se alimenta das vozes que ecoam das cozinhas e dos quintais: as Donas Inês, as avós de turbante invisível, as mães que sustentam as estruturas afetivas das periferias.

No ambiente digital, sua presença é luta e acolhimento. Através do perfil @alinebotelhooo no Instagram, compartilha reflexões sobre ancestralidade, identidade negra, vivências periféricas e educação como prática de liberdade. Sua voz ressoa nas redes como atabaque que chama para o axé do conhecimento.

Aline é encantamento.
É griô de seu tempo.
É mulher preta que faz da palavra caminho, da escola quilombo e da escrita território de libertação.