Feminicídio: a violência que começa no silêncio e termina no fim — precisamos ouvir antes que a voz se apague

Colunas Geral

Segundo a Rede de Observatório de Segurança, a cada 17 horas no Brasil, mulheres são mortas pelo simples fato de serem mulheres. Esses números não são apenas estatísticas, são vidas perdidas, histórias interrompidas, famílias devastadas.

Não é um crime passional, não é um “erro trágico”, tampouco é uma exceção. É a forma mais cruel e extrema de violência de gênero e representa o fracasso coletivo de uma sociedade que ainda não escuta suas mulheres, não acredita em seus relatos e, sobretudo, não as protege.

O feminicídio nunca chega sem aviso. Ele é o desfecho de uma escalada silenciosa, que começa com palavras que diminuem, com olhares que controlam, com restrições disfarçadas de zelo. A violência psicológica, muitas vezes invisível, mina a autoestima da mulher, a isola, a faz acreditar que não é capaz de sair, que não merece ser amada de outro modo, que deve permanecer para preservar uma aparência ou proteger os filhos e essa é a sutil armadilha.

É nesse silêncio que a violência doméstica se instala e gradativamente, avança. A mulher se cala por medo, por vergonha, por dependência econômica e emocional, por não saber a quem recorrer. Quando finalmente rompe o silêncio, é porque suportou o insuportável e, muitas vezes, já corre risco iminente de morte.

A violência doméstica segue um padrão, conhecido como o ciclo da violência, dividido em três fases: a fase da tensão (em que o agressor se mostra irritado, imprevisível, e a mulher tenta apaziguar), a fase da explosão (quando ocorre o ato violento em si, como físico, moral, sexual, patrimonial ou psicológico) e a fase da lua de mel (marcada por pedidos de perdão, promessas de mudança, manipulação emocional). Esse ciclo se repete e tende a se intensificar com o tempo.

Romper esse ciclo exige coragem, mas exige também rede de apoio sólida e empática! Uma mulher só consegue sair de um relacionamento abusivo quando não se sente sozinha. Por isso, precisamos falar sobre acolhimento, sobre escuta sem julgamento, sobre empatia real, entre mulheres, entre profissionais, entre instituições. Precisamos normalizar o apoio, não a violência!

É imprescindível que existam Centros de Referência da Mulher, Casas de Acolhimento, redes comunitárias. Esses espaços especializados são portas de saída, nos quais a mulher é orientada, amparada, fortalecida e principalmente, se sentindo acolhida e com coragem para denunciar seu agressor!

E sim, ao denunciar, a mulher tem direitos: pode solicitar o divórcio na Vara da Violência Doméstica, pedir pensão alimentícia para si e aos filhos, obter a guarda unilateral dos filhos e permanecer em seu lar, sem ser obrigada a pagar aluguel ao agressor. A legislação está a seu favor e precisa ser conhecida e aplicada com sensibilidade e firmeza!

Mas nenhuma medida legal será suficiente se não houver uma rede viva e humana por trás. Por isso, o papel de todas nós, é essencial! Temos de estar atentas, não silenciar, estender a mão, informar e acolher!

E quando a mulher não consegue dizer, ela pode sinalizar. Existe um gesto internacionalmente reconhecido como pedido de ajuda silencioso, “signal for help”. Com a mão aberta, ela dobra o polegar e fecha os dedos sobre ele. Simples, discreto, mas poderoso. É um grito por socorro em silêncio!

“Se você reconhecer esse sinal, não ignore. O silêncio pode ser fatal!”

Mulher, se você sente medo, se já não reconhece sua própria voz, se precisa justificar cada passo que dá, saiba: não confunda abuso com amor!

Você não está sozinha! Há caminhos, há apoio, há saída e há vida possível sim, uma vida livre da violência, digna, com paz e respeito!

Eu sou Cláudia Lima de Oliveira Guevara, advogada especialista em Direito das Famílias e Violência Doméstica, palestrante, coordenadora de projetos de acolhimento jurídico para mulheres e coautora da antologia “O Olhar da Psicologia sobre a Violência Doméstica”, obra que une direito e saúde mental para fortalecer a proteção das mulheres.

A obra está disponível para aquisição nas plataformas: Uiclap, Amazon e Kindle.

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Advogada Cláudia Lima de Oliveira Guevara
Advogada Cláudia Lima de Oliveira Guevara