A cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo. Ao final da leitura desse texto, aproximadamente 6 vidas serão perdidas. O impacto de um infortúnio desses é tão grande que, via de regra, acaba mudando o curso da história da família afetada.
Um exemplo disso é o padre Lício Vale, hoje com 66 anos de idade – quando tinha apenas 13 anos, em 1970, seu pai tirou a própria vida. O choque foi imediato. Além da dor da perda do ente querido, o pequeno Lício ainda teve que suportar o constrangimento de ser informado que seu pai não poderia ter missa de corpo presente ou mesmo uma missa de 7º dia, algo que marcou profundamente sua família que era católica praticamente. Historicamente, a Igreja Católica sempre teve uma posição austera em relação ao suicídio – algo que foi atenuado no século XXI. Décadas depois, Lício se tornaria padre da mesma Igreja Católica Apostólica Romana.
A psicóloga Celicia Borràs definiu muito bem o sentimento de uma mãe num artigo comovente para o jornal espanhol El País. O filho dela tirou a própria vida aos 19 anos:
“Embora a dor e a incompreensão do vivido nos destruam por dentro, sobrevive-se.”
É exatamente isso: depois de uma hecatombe emocional como essa, você não vive mais, apenas sobrevive.
O suicídio é uma crise multifatorial. Tudo pode influenciar: a idade, o ambiente socioeconômico, depressão, decepção amorosa, relações familiares, abuso de substâncias, doença, desemprego… Enfim, um caldeirão de fatores que torna esse evento quase imprevisível.
Quando perdemos alguém próximo, como um filho, naquele momento morre uma pessoa que você ama muito e julga conhecer muito bem, pela proximidade, pela intimidade e, de repente, aquele filho querido lhe parece um completo desconhecido – você se sente desorientada, abandonada e, por fim, culpada de alguma forma. É uma dor tão avassaladora que você não consegue se perdoar, ainda que você nem saiba por que o seu filho tomou aquela atitude.
O antropólogo francês Émile Durkheim define o suicídio como:
“Todo o caso de morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado.”
Para Durkheim, a causa para todos os tipos de suicídios são sociais. Será?
Do sexagenário vencedor do Nobel de Literatura, Ernest Hemingway, nos anos 60, passando pelo reverenciado vocalista do Nirvana, Kurt Cobain, nos anos 90, até o recente suicídio dos jovens cantores sul-coreanos de K-pop – Goo Hara, Sulli e Moonbin (todos com menos de 30 anos) – o que poderiam ter em comum figuras tão díspares? Esse é o verdadeiro enigma. Não existe um vetor, não existe um ponto de convergência e a previsibilidade desse tipo de ocorrência é extremamente difícil.
Por isso é tão importante debater, refletir e trocar experiências sobre esse assunto árido que é a morte autoinfligida. Só assim teremos alguma chance de evitar tantas vidas desperdiçadas.
